quinta-feira, 27 de maio de 2010

Primeira Guerra Mundial

domingo, 25 de abril de 2010

Perdidas nas molduras - RHBN

Armando Vianna retrata na pintura a mulher negra pós-Abolição: limpando metais e pensando na vida
Maraliz de Castro Vieira Christo

Com o olhar distante, uma empregada doméstica negra está polindo a prataria da casa de família onde trabalha. A imagem é da tela “Limpando metais”, do pintor Armando Vianna (1897-1992), que mostra uma cena da vida cotidiana. Mas não é só isso: o quadro, de 1923, levanta a questão do lugar da mulher negra na pintura e na sociedade brasileira.
Apesar de diminuto, esse tipo de produção artística foi estabelecido nas primeiras décadas depois da Abolição. Obras como a de Vianna deixam claras algumas das opções nada animadoras destas mulheres na sociedade: podiam desaparecer pela miscigenação, permanecer reclusas na periferia e nos morros ou aprisionar-se na cozinha, trabalhando sempre. Entre as telas do período, as mais conhecidas são “Engenho de mandioca” e “Redenção de Cã”, do espanhol Modesto Brocos (1852-1936); “Mulata quitandeira”, do italiano Antonio Ferrigno (c. 1893-1903); “Mãe negra”, de Lucílio de Albuquerque (1877-1939), e “Tarefa pesada”, do italiano Gustavo Dall’Ara (1865-1923).
No século XIX, os negros povoaram as obras dos pintores viajantes, como Rugendas (1802-1858), e estiveram presentes no trabalho de vários fotógrafos, a exemplo de Alberto Henschel e Christiano Jr., sendo raras as representações em pinturas a óleo. Entretanto, o final do século trouxe consigo a valorização da pintura de cenas de costumes, por vezes representadas em quadros de grandes formatos. Buscava-se atingir sentimentalmente o observador, comovendo-o diante da situação vivenciada pelos personagens, mas sem grande dramaticidade. Assim, a mulher negra poderia ser representada expressando seus sentimentos, não mais reduzida a elemento puramente exótico. (...)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Construção da Igualdade

Video produzido pelo CEAP – Centro de Articulação de Populações Marginalizadas.

Parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=yBcajWhOis8&feature=related 

Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=F5XaRwBjj48


site do CEAP
http://www.portalceap.org/quem-somos.html

quarta-feira, 17 de março de 2010

Epopéia de Gilgamesh

Gilgamesh foi um rei e herói legendário, da cidade-estado de Uruk, Mesopotamia, região onde onde se encontra o Iraque.
De acordo com a lista dos reis sumérios, Gilgamesh foi o quinto rei de Uruk, da primeira Dinastia, filho de Lugalbanda. Diz a lenda que sua mãe era Ninsun, uma deusa.
Baseado em antigas lendas, o Épico de Gilgamesh é originário da Babilônia, datando de muito tempo depois da época em que o rei teria reinado. Costumava ser passado adiante apenas por tradição oral. A versão mais completa deste épico preservou-se em doze tabletes de barro, na coleção do século VII a.C. do rei assírio Assurbanipal. É considerado a mais antiga história jamais contada. Trata-se da mais antiga publicaçao escrita conhecida da humanidade.
Uruk era uma das mais antigas e importantes cidades da Suméria, hoje chamada Warka, e no Antigo testamento Erech, situada a leste do atual leito do Eufrates. O nome moderno de Iraque possivelmente se deriva do nome Uruk.
Desde aí, Gilgamesh tem inspirado muitas outras histórias.

terça-feira, 9 de março de 2010

Machado de Assis - Bons dias!

Crônica publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888.

Bons dias!
Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário fôr, que tôda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.
Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.
No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.
Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:
- Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que...
- Oh! meu senhô! fico.
- ...Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho dêste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...
- Artura não qué dizê nada, não, senhô...
- Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.
- Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.
Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Êle continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí pra cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe bêsta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas tôdas que êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.
O meu plano está feito; quero ser deputado,e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a tôda a gente que dêle teve notícia; que êsse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu.
Boas noites.
       Texto extraído do livro Obra Completa, Vol III. Machado de Assis. 3ª edição. José Aguilar, Rio de Janeiro. 1973. p. 489 - 491.

 
       Biografia
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é considerado o maior escritor realista do Brasil e, provavelmente, o maior escritor da literatura brasileira. Nasceu numa família muito humilde e, para ajudar a família, começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional em 1856. De 1858 em diante escreve para diversos jornais importantes com regularidade.
Dentre suas principais obras estão seus contos (O Alienista e A Cartomante estão entre os mais famosos) e os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro. Foi o principal fundador da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro presidente. A crônica brasileira moderna tem, em Machado de Assis, um dos seus principais fundadores. Machado escrevia suas crônicas sob pseudônimos. Só 40 anos após sua morte é que se descobriu o verdadeiro autor das chamadas Crônicas de Lélio.
Na crônica abaixo, Machado de Assis aborda com ironia a questão da abolição da escravatura, que havia ocorrido no dia 13 de maio de 1888.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Clio, a musa da História.

No alto do Monte Parmasso, junto de outras musas ela vivia. Com uma beleza esplendida tinha em suas mãos o estilete da escrita e a trombeta da fama. Entre as outras musas Clio, a musa da História, filha de Zeus, o deus dos deuses e Mnemósine, a deusa da Memória. Como sua mãe estava dentro do campo do passado, este que pode ou não ser lembrado e narrado.

O mundo de Clio passou e passa por diferentes modificações a cada dia, transformando-o em cada vez mais complexo e envolvente. A História Cultural, hoje é o novo mundo de Clio. Um mundo de teias envolvidas pela cultura, como define Pesavento, trata-se pensar a cultura como um contíguo de significações divididas e construídas pelos homens para explicar o mundo (PESSAVENTO, 2003, p. 15).

A mudança da direção dos olhos de Clio para explicar o mundo, começou por volta da década de 90, que é considerada a marca verdadeira da mudança de olhares. Mas se formos um pouco antes teremos marcas na história que foram fundamentais para essa virada, a crise de maio de 1968 pode ser um exemplo claro, pois aí tínhamos a luta dos jovens em busca de cultura.

De acordo com um dos autores mais consagrados da história cultural hoje, Roger Chartier, a história cultural se constitui através da critica de três principais autores: Franco Venturini que denunciava o apagamento da força criativa das novas idéias em proveito de simples estruturas mentais sem dinamismos e originalidades (VENTURINI, 1970); Carlo Ginzburg que recusava a noção de mentalidade por três razões: a insistência exclusiva em elementos inertes, obscuros e inconscientes das visões do mundo; em seguida, porque pressupõe indevidamente a partilha das mesmas categorias e representações por todos os meios sociais; e pela aliança com os procedimentos quantitativos e seriais que em conjunto retificam os conteúdos do pensamento (GINZBURG, 1976); e por último Geoffrey Lloyd que endureceu mais ainda a critica, postulando dois essenciais da história das mentalidades: de um lado atribuía a sociedade inteira um conjunto estável e homogêneo de idéias e de crenças; por outro, considerava que todos os pensamentos e todos os comportamentos de um indivíduo são governados por um estrutura mental única (CHARTIER, 2006, p. 32).

Hoje a Musa da História, Clio, vive em um mundo sem fronteiras e limitações. Esta que está inserida na cultura, não estando mais obrigada a obter certezas e nem considerar verdade o que está contido nos documentos. Neste mundo, a história escrita hoje pode ser mudada amanhã, dependendo da visão de cada historiador, da sua linha historiográfica, a cultura será vista de formas diferentes. Podendo assim ser interpretada de diferentes ângulos, como a se a escrita da história do mundo estivesse tendo a visão através de um caleidoscópio.

A história cultural é uma multiplicidade de objetos, de domínios e de métodos; uma articulação entre objetos que comunicam os processos de apropriação; a multiplicidade de sentidos que se produzem a partir dos processos de apropriação, fazendo com que a escrita seja dependente da interação e intuição de cada leitor perante o objeto em estudo.

Os objetos de pesquisa para a história cultural são os mais diversos possíveis, estando esses inseridos na teia da cultura. Podendo ser analisados individualmente, mas sem que haja o distanciamento do meio, um objeto jamais pode ser analisado sozinho, pois como já foi dito tudo está dentro da cultura independente do que for. Pode-se pesquisar a vida de uma pessoa dentro de uma época inteira, ela estará dentro da cultura daquela época, fazendo com que seus hábitos e costumes caracterizem o seu meio, estará imersa na cultura de massa.

O campo de pesquisa da história cultural é realmente vasto, pois este contempla um número de vários objetos que analisados trarão consigo a cultura de determinada época e lugar. Fazendo com que através da história de um objeto ou de uma pessoa podemos ver a história cultural de uma época. Um exemplo claro disto é a obra do autor Carlo Ginzburg, O queijo e os vermes, onde conta a história do moleiro Menóquio que vivia na Idade Média, através da história da vida do moleiro podemos identificar a cultura de uma época de acordo com a sua vida.

A história hoje conta com parceiros que não delimitam fronteiras e nem hierarquias, trabalham juntos para proporcionar um campo de conhecimento vasto, dentre eles estão a Antropologia, a Literatura e Arte. O objeto em estudo é o que se tem de comum entre eles, partilham diferentes discursos e pontos de observação, como também o lugar de onde é lançada a questão a ser resolvida (PESSAVENTO, 2003, p. 109).

A história cultural hoje é uma grande contribuinte para o ensino escolar, pois através desta temos um longo e vasto campo de estudo da cultura, fazendo com que torne-se de mais fácil entendimento a cultura atual e a cultura de povos que já não estão mais entre nós. Os materiais didáticos são os principais utensílios para o conhecimento de culturas distantes, estes que hoje certamente contribuem para o aprendizado da história de nações passadas e atuais. Se analisarmos os materiais didáticos de alguns anos atrás teríamos a certeza de que os únicos que faziam história eram os grandes homens, heróis e bandidos, estes que faziam uma história dualista.

A participação da história cultural nos métodos de ensino hoje poder ser considerada uma grande aliada para o conhecimento amplo de vidas e culturas passadas, pois esta não fará distinção em os ricos e pobres, reis e camponeses, letrados e não letrados, etc., o estudo será igualitário para ambos sem que haja uma prevalência dos considerados “heróis da história”. A história é construída por todos independente da classe e poder. O trabalho do professor e historiador na historiografia cultural é proporcionar o conhecimento para seus alunos sem a objeção de fatos, períodos e pessoas.

Hoje a história não é mais aquela vista de cima pelo historiador, sua participação na construção está totalmente presente, não há como se distanciar do documento em estudo, pois o historiador está imerso na história, fará sua analise de acordo com a sua concepção de história, não haverá mais a separação entre historiador e objeto, haverá uma analise em conjunto que no final terá a participação de ambos.

O novo mundo Clio é um universo sem fronteiras e verdades absolutas. É constituído de verdades hoje e de mentiras amanhã, verdades construídas agora e desconstruidas depois, mas sempre resultados possíveis e mais próximos do que pode ter acontecido no passado. O universo da história cultural é aquele que resgata o individuo, recompondo historias de vida, principalmente daqueles egressos das camadas populares (PESAVENTO, 2003, p. 118).

O mundo de Clio é o mundo das suspeitas e incertezas, o mundo que foi um dia contado de uma forma, pode ser amanhã ser contado de outra. Assim continuará a história cheia de pontos de interrogações que farão com que nos historiadores e professores os respondam, cada um da sua maneira.

Sejam bem vindos ao Novo Mundo de Clio!

O estudo da História é fundamental para nos reconhecermos como seres humanos.

Todos nós necessitamos conhecer nossas origens e muitas vezes não nos damos conta disso. Isso acontece porque os seres humanos têm consciência sobre sua existência.
Por este motivo é muito comum, por exemplo, casos de pessoas adotadas que apesar de terem sido criadas com muito amor, passam a vida buscando conhecer seus verdadeiros pais. Em maior escala, a sociedade também se questiona sobre suas origens. Como surgimos? De onde viemos? Por que vivemos, nos organizamos e nos relacionamos desse ou daquele modo?
Para dar respostas a esses questionamentos a História estuda as ações humanas, o que as pessoas fizeram, pensaram, praticaram, construíram, viveram etc., refletindo sobre as mais variadas explicações, sejam religiosas ou científicas.
Por fim, alias, para começo, é preciso dizer que assim como o órfão que procura saber quem são seus pais faz isso para se conhecer melhor, o estudo da História só faz sentido se voltarmos os olhos ao passado para compreendermos nossas sociedades contemporâneas.